quarta-feira, março 10, 2004
Fair play? Imparcialidade?
A 18 de Abril de 2003 escrevi, numa das crónicas com que de vez em quando bombardeava os amigos, o seguinte:
PROPAGANDA
A qualidade de informação da BBC não é tão boa como em Portugal se faz crer. A forma como a Guerra no Iraque tem sido noticiada cá faz-me pensar que vivemos numa situação de défice democrático, uma vez que as pessoas são mal informadas (para além de mal representadas). A mesma imagem passa no noticiário da manhã como correspondendo a uma cidade, no da tarde como pertencendo a outra e no da noite como dizendo respeito a uma terceira. Numa cidade de 5 milhões, 500 vadios que ajudam a derrubar uma estátua e pilham tudo o que podem são a prova de que os soldados são bem recebidos e de que as pessoas estão felizes... Visitas guiadas a barracões com máscaras de gás e caixotes alegadamente carimbados por Ministérios Iraquianos em Inglês (pasme-se!) são indícios da posse de armas químicas... Imagens de tanques carbonizados numa auto-estrada inidentificável são comentados em directo como "a prova de que as forças americanas já estão no centro de Bagdad...". Cada um vê o que quer ver... Mas é estranho que cá não se pergunte pelas tais armas que os inspectores também não encontraram e que motivaram esta bagunça que agora parece querer estender-se à Síria. Em tempo de guerra, a propaganda é igual para os dois lados.
Durante parte da Guerra, a BBC levou o Blair ao colo. Quando este começou a caír em desgraça e, para agravar, mandou umas "bocas" dirigidas à comunicação, a BBC passou a desancá-lo diariamente, chegando ao ponto de alegar (no caso David Kelly) que os dossiers sobre armas iraquianas teriam sido "apimentados" para forçar a Guerra. Na verdade, a pressão exercida pelo Executivo sobre o Kelly foi inqualificável e provavelmente os dossiers foram mesmo empolados mas, se não podes provar, não afirmas como facto... E lá se demitiu o director da BBC. Uma semana antes, um jornalista da ITV tinha sido suspenso por uma reportagem subtilmente racista...
Isto tudo para dizer que não bastasse a rádio ser uma porcaria com M grande (os DJ's não têm qualquer critério) e as bancas estarem inundadas de tablóides a dissecar a vida privada de figuras que desconheço (o Beckham agora está longe) mas que, segundo me dizem, são conhecidas dos reality shows, a televisão cá é mediocre (muito à custa dos ditos reality shows) e parcial. Ou seja, os media são maus neste país.
No rescaldo do sucesso do Porto em Old Trafford, os jornalistas ingleses dissecaram todos os aspectos subjacentes à inusitada hecatombe, procuraram mil e uma justificações, mas nenhum foi capaz de dizer que uma equipa foi mais forte e, por isso, passou merecidamente (assim o dizem as estatísticas e a opinião de não portistas). É sempre assim, esforçam-se por, subtil e fleumaticamente, humilhar o adversário (o "sangue" que os jornais procuraram gerar antes do jogo foi vergonhoso) e, se por acaso, lhes sai ao contrário, não encaram o fracasso de frente. Assim foi com a Guerra, assim é com o futebol...
Honra lhes seja feita, na derrota os ingleses estendem a mão e dão os Parabéns. São bem educados (quando sóbrios). Mas só há fair play quando há respeito...
Termino por dizer que me sinto bem neste País e que tenho feito bons amigos ingleses. Mas cá nem tudo é tão civilizado como se possa pensar...
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PROPAGANDA
A qualidade de informação da BBC não é tão boa como em Portugal se faz crer. A forma como a Guerra no Iraque tem sido noticiada cá faz-me pensar que vivemos numa situação de défice democrático, uma vez que as pessoas são mal informadas (para além de mal representadas). A mesma imagem passa no noticiário da manhã como correspondendo a uma cidade, no da tarde como pertencendo a outra e no da noite como dizendo respeito a uma terceira. Numa cidade de 5 milhões, 500 vadios que ajudam a derrubar uma estátua e pilham tudo o que podem são a prova de que os soldados são bem recebidos e de que as pessoas estão felizes... Visitas guiadas a barracões com máscaras de gás e caixotes alegadamente carimbados por Ministérios Iraquianos em Inglês (pasme-se!) são indícios da posse de armas químicas... Imagens de tanques carbonizados numa auto-estrada inidentificável são comentados em directo como "a prova de que as forças americanas já estão no centro de Bagdad...". Cada um vê o que quer ver... Mas é estranho que cá não se pergunte pelas tais armas que os inspectores também não encontraram e que motivaram esta bagunça que agora parece querer estender-se à Síria. Em tempo de guerra, a propaganda é igual para os dois lados.
Durante parte da Guerra, a BBC levou o Blair ao colo. Quando este começou a caír em desgraça e, para agravar, mandou umas "bocas" dirigidas à comunicação, a BBC passou a desancá-lo diariamente, chegando ao ponto de alegar (no caso David Kelly) que os dossiers sobre armas iraquianas teriam sido "apimentados" para forçar a Guerra. Na verdade, a pressão exercida pelo Executivo sobre o Kelly foi inqualificável e provavelmente os dossiers foram mesmo empolados mas, se não podes provar, não afirmas como facto... E lá se demitiu o director da BBC. Uma semana antes, um jornalista da ITV tinha sido suspenso por uma reportagem subtilmente racista...
Isto tudo para dizer que não bastasse a rádio ser uma porcaria com M grande (os DJ's não têm qualquer critério) e as bancas estarem inundadas de tablóides a dissecar a vida privada de figuras que desconheço (o Beckham agora está longe) mas que, segundo me dizem, são conhecidas dos reality shows, a televisão cá é mediocre (muito à custa dos ditos reality shows) e parcial. Ou seja, os media são maus neste país.
No rescaldo do sucesso do Porto em Old Trafford, os jornalistas ingleses dissecaram todos os aspectos subjacentes à inusitada hecatombe, procuraram mil e uma justificações, mas nenhum foi capaz de dizer que uma equipa foi mais forte e, por isso, passou merecidamente (assim o dizem as estatísticas e a opinião de não portistas). É sempre assim, esforçam-se por, subtil e fleumaticamente, humilhar o adversário (o "sangue" que os jornais procuraram gerar antes do jogo foi vergonhoso) e, se por acaso, lhes sai ao contrário, não encaram o fracasso de frente. Assim foi com a Guerra, assim é com o futebol...
Honra lhes seja feita, na derrota os ingleses estendem a mão e dão os Parabéns. São bem educados (quando sóbrios). Mas só há fair play quando há respeito...
Termino por dizer que me sinto bem neste País e que tenho feito bons amigos ingleses. Mas cá nem tudo é tão civilizado como se possa pensar...
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