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domingo, janeiro 29, 2006


Uma máquina muito pesada 

Em Janeiro de 2005 chegou lá a casa (Viana) uma notificação a informar que, em Outubro de 2004, na A1, eu tinha cometido uma infracção ao Código por não levar luzes adequadas às condições atmosféricas (chuva intensa). Na verdade, a notificação era dirigida à minha Mãe, em nome de quem está o carro. Tinha efectivamente uma vaga ideia de, numa chuvosa viagem Lisboa-Viana, ter sido chamado à atenção pela BT e de imediatamente ter acendido os médios (provavelmente sem sentir que a visibilidade fosse assim tão má). O dito documento falava em recurso ou (pensou-se na altura) no pagamento de uma multa. Pagou-se a multa e esqueceu-se o assunto.

Há poucos dias (já em Janeiro de 2006), chega uma carta do Tribunal a dizer resumidamente que, se não apresentar recurso, terei que ficar sem carta 30 dias, embora a multa tivesse sido paga e não se pudesse provar que tivesse havido dolo. Isto porque, na altura da primeira notificação, não recorri da sentença, o que equivale a dizer que assumo a negligência e por isso mereço ser punido. Pergunto-me como se preparará o recurso num caso destes... Eu até podia nem me lembrar dessa viagem.

Não contesto a punição e nesta altura só me interessa garantir que é a minha carta (e não a da minha Mãe, que não tem culpa nenhuma) que vai um mês de férias (já escrevi uma declaração a confirmar ser eu quem conduzia o carro nesse dia). Preocupa-me é que os nossos tribunais andem a ocupar-se com infracções ao Código, não dolosas e que não originaram recurso, com mais de um ano.

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sábado, janeiro 28, 2006


Burns Night no Jesus 

O programa incluiu Haggis (e a respectiva exaltação), Whiskey e Ceilidh.

Mais fotos aqui.

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sexta-feira, janeiro 27, 2006


Preconceito machista pouco dissimulado 

N. e C. são um casal de Australianos da minha idade a viver em Inglaterra há dois anos. C. é veterinário e tem dupla nacionalidade, possuindo passaporte britânico. N. é minha colega, trabalha em Ciência. Têm um casamento estável e feliz. Vivem no apartamento da clínica em que C. trabalha.
A N. viaja bastante em trabalho e, quando é possível, "leva" o C. com ela. Aliás, os dois têm aproveitado também as férias para conhecer melhor a Europa.
Há duas semanas, N. foi chamada a Londres (creio que ao Consulado) para regularizar a sua situação de imigrante, que levantava muitas dúvidas. As autoridades não compreendiam como e por que motivo uma jovem mulher casada se ausentava tantas vezes do País sem o marido. N. foi obrigada a entregar, para além de comprovativo de residência, vários documentos para provar a sua situação: o Presidente do Departamento redigiu uma carta a comprovar que era cientista e que viajava bastante em trabalho; os colegas veterinários de C. escreveram a dizer que N. morava com o marido, que tinham uma relação feliz e que viajavam muitas vezes juntos. Para além disso, N. teve que lembrar-lhes que o facto de C. não ter tantos carimbos no passaporte não significava que não viajasse: embora o Reino Unido não pertença ao Espaço Schengen, cidadãos britânicos não levam carimbo quando vão ao continente, da mesma forma que eu tambem não levo quando entro no Reino Unido. E precisamente pelo mesmo motivo, cidadãos não Europeus levam carimbo (e, às vezes, precisam de visto) para entrar no Espaço Schengen.

Pergunta: se fosse C. o cientista viajante, será que o teriam chamado? Eu creio que não, há cá muitos homens numa situação semelhante e nunca ouvi relato semelhante...

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terça-feira, janeiro 24, 2006


Sobre as Presidenciais 

Não o posso provar agora, uma vez que nunca coloquei aqui nenhuma previsão (para além da derrota do "imbatível" Soares), mas os resultados das Presidenciais foram, em traços gerais, os que eu esperava desde o início: Cavaco à primeira, Alegre bem à frente de Soares, Jerónimo bem à frente de Louçã e melhor que o PC nas Legislativas.
Não tenho grande tempo para escrever muito sobre o assunto e as incidências das últimas eleições já foram dissecadas por gente mais talentosa e atenta do que eu. Deixo aqui apenas a transcrição de um mail rápido que mandei a alguém que me perguntou se estava contente com os resultados:

Não me desagradam, poupou-se tempo e dinheiro com uma segunda volta e, embora eu não ache o Cavaco o salvador, ganhou o único que verdadeiramente desejou e se preparou para ser Presidente. Parece-me que os outros se candidataram por outros motivos, incluindo evitar que o Cavaco ganhasse. Gostei particularmente dos resultados fracos de Soares e Louçã: fizeram uma campanha arrogante, cinzenta e pela negativa. Gostei que o Jerónimo tivesse tido um bom resultado: foi mais humilde, simpático, frontal, coerente e o unico capaz de, no debate televisivo, obrigar o Cavaco a falar e a marcar as diferenças sem ser com base em ataques pessoais ou ao passado. O facto de Jerónimo valer mais que o PC, Soares e Louçã menos que os respectivos partidos, o bom resultado do "pseudo-independente" Alegre e o facto de PSD e PP terem sido obrigados a não dar nas vistas na campanha do Cavaco são um factor positivo: desta vez os partidos não mandaram nas eleições (que o diga o PS).

Mas não resisto a uma opinião especulativa:
. Alegre sem Soares e com o lançamento do PS não levaria Cavaco à segunda volta porque passaria a estar conotado com o Governo e o Partido e já não beneficiaria do tal movimento de cidadania composto por aqueles que estão fartos da influência das máquinas partidárias.
. Soares sem Alegre não levaria Cavaco à segunda volta porque haveria votos de protesto Governo e anti-"aparelho PS" que provavelmente se transfeririam de Alegre para Cavaco.
. Resumindo, os Socialistas teriam precisado de outro candidato, mais consensual, que se lançasse por iniciativa individual mais cedo e só fosse apoiado pelo PS depois. Nunca percebi esta ideia peregrina de lançar Soares nem por que razão o homem se meteu nisto. Não trouxe nada de novo, limitou-se a bater em Cavaco.
. Jorge Coelho provou ser um péssimo estratega eleitoral e espero que não se esqueçam de o sanear politicamente.

A nossa comunicação social continua a ser perigosamente tendenciosa:
. Garcia Pereira é tão candidato como os outros, já tinha provado ser capaz de recolher 7500 assinaturas e nem sequer foi o último a entregá-las. Não ser convidado para o ciclo de debates televisivos é triste.
. Jerónimo de Sousa, apesar de ter sido o único a rebentar com as costuras do Pavilhão Atlântico, teve direito a cerca de metade das notícias de que beneficiaram os outros 4 candidatos "a sério" (segundo os critérios jornalísticos). E nunca percebi por que motivo os Comunistas têm sempre resultados melhores que as sondagens (o mesmo se costuma passar com o CDS).
. Interromper a transmissão da declaração de Alegre (segundo candidato mais votado) para mostrar a de Sócrates (Secretário-Geral do partido que apoiou o terceiro, que até já tinha falado) é inconcebível e muito mau prenúncio. Não me interessa se Sócrates fez de propósito ou não. As televisões é que o deviam ter ignorado.

Recomendo ainda a leitura deste post escrito por alguém que votou Cavaco.

E não acabo sem colocar aqui uma provocação de assumido mau gosto (que me foi enviada por um blogger de reconhecido bom gosto) aos amigos Filipe e Miguel.


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quinta-feira, janeiro 19, 2006


O atestado médico 

José Ricardo Costa
(professor de filosofia que escreve semanalmente para o jornal "O Torrejano")

Imagine o meu caro que é professor, que é dia de exame do 12º ano e vai ter de fazer uma vigilância.

Continue a imaginar. O despertador avariou durante a noite. Ou fica preso no elevador. Ou o seu filho, já à porta do infantário, vomitou o quente, pastoso, húmido e fétido pequeno-almoço em cima da sua imaculada camisa.

Teve, portanto, de faltar à vigilância. Tem falta. Ora esta coisa de um professor ficar com faltas injustificadas é complicada, por isso convém justificá-la. A questão agora é: como justificá-la? Passemos então à parte divertida.

A única justificação para o facto de ficar preso no elevador, do despertador avariar ou de não poder ir para uma sala do exame com a camisa vomitada, ababalhada e malcheirosa, é um atestado médico. Qualquer pessoa com um pouco de bom senso percebe que quem precisa aqui do atestado médico será o despertador ou o elevador. Mas não. Só uma doença poderá justificar a sua ausência na sala do exame.

Vai ao médico. E, a partir deste momento, a situação deixa de ser divertida para passar a ser hilariante.

Chega-se ao médico com o ar mais saudável deste mundo. Enfim, com o sorriso de Jorge Gabriel misturado com o ar rosado do Gabriel Alves e a felicidade do padre Melícias. A partir deste momento mágico, gera-se um fenómeno que só pode ser explicado através de noções básicas da psicopatologia da vida quotidiana. Os mesmos que explicam uma hipnose colectiva em Felgueiras, o holocausto nazi ou o sucesso da TVI.

O professor sabe que não está doente. O médico sabe que ele não está doente. O presidente do executivo sabe que ele não está doente. O director regional sabe que ele não está doente. O Ministério da Educação sabe que ele não está doente. O próprio legislador, que manda a um professor que fica preso no elevador apresentar um atestado médico, também sabe que o professor não está doente.

Ora, num país em que isto acontece, para além do despertador que não toca, do elevador parado e da camisa vomitada, é o próprio país que está doente.

Um país assim, onde a mentira é legislada, só pode mesmo ser um país doente.

Vamos lá ver, a mentira em si não é patológica. Até pode ser racional, útil e eficaz em certas ocasiões. O que já será patológico é o desejo que temos de sermos enganados ou a capacidade para fingirmos que a mentira é verdade.

Lá nesse aspecto somos um bom exemplo do que dizia Goebbels: uma mentira várias vezes repetida transforma-se numa verdade. Já Aristóteles percebia uma coisa muito engraçada: quando vamos ao teatro, vamos com o desejo e uma predisposição para sermos enganados. Mas isso é normal. Sabemos bem, depois de termos chorado baba e ranho a ver o "ET", que este é um boneco e que temos de poupar a baba e o ranho para outras ocasiões.

O problema é que em Portugal a ficção se confunde com a realidade. Portugal é ele próprio uma produção fictícia, provavelmente mesmo desde D. Afonso Henriques, que Deus me perdoe.

A começar pela política. Os nossos políticos são descaradamente mentirosos.

Só que ninguém leva a mal porque já estamos habituados. Aliás, em Portugal é-se penalizado por falar verdade, mesmo que seja por boas razões, o que significa que em Portugal não há boas razões para falar verdade.

Se eu, num ambiente formal, disser a uma pessoa que tem uma nódoa na camisa, ela irá levar a mal. Fica ofendida. Se eu digo isso é para a ajudar, para que possa disfarçar a nódoa e não fazer má figura. Mas ela fica zangada comigo só porque eu vi a nódoa, sabe que eu sei que tem a nódoa e porque assumi perante ela que sei que tem a nódoa e que sei que ela sabe que eu sei.

Nós, portugueses, adoramos viver enganados, iludidos e achamos normal que assim seja. Por exemplo, lemos revistas sociais e ficamos derretidos (não falo do cérebro, mas de um plano emocional) ao vermos casais felicíssimos e com vidas de sonho. Pronto, sabemos que aquilo é tudo mentira, que muitos deles divorciam-se ao fim de três meses e que outros vivem um alcoolismo disfarçado. Mas adoramos fingir que aquilo é tudo verdade.

Somos pobres, mas vivemos como os alemães e os franceses. Somos ignorantes e culturalmente miseráveis, mas somos doutores e engenheiros. Fazemos malabarismos e contorcionismos financeiros, mas vamos passar férias a Fortaleza. Fazemos estádios caríssimos para dois ou três jogos em 15 dias, temos auto-estradas modernas e europeias, mas para ver passar, a seu lado, entulho, lixo, mato por limpar, eucaliptos, floresta queimada, barracões com chapas de zinco, casas horríveis e fábricas desactivadas. Portugal mente compulsivamente. Mente perante si próprio e mente perante o mundo.

Claro que não é um professor que falta à vigilância de um exame por ficar preso no elevador que precisa de um atestado médico. É Portugal que precisa, antes que comece a vomitar sobre si próprio.


(Obrigado Ana!)

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domingo, janeiro 15, 2006


Acumulações 

A presença de Sócrates no comício de Soares fez-me reviver uma opinião que tenho há já muitos anos: o Primeiro Ministro, quando eleito, deveria abandonar a liderança do respectivo Partido. Não escrevo isto por se tratar deste PM em particular, já tinha este sentimento nos tempos de Guterres e Durão Barroso e achei um disparate monumental Santana Lopes ter sido PM só por liderar o PSD. Sócrates está apenas a cumprir com as suas obrigações como líder do PS mas faz-me confusão ver o PM envolvido em campanhas eleitorais e em outras iniciativas de natureza partidária. Creio mesmo que o Partido e a candidatura beneficiariam com um “chefe” mais disponível e dedicado.

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quarta-feira, janeiro 11, 2006


Presidenciais 

Descubro agora que, há 5 anos, o meu voto, correspondente à quinta maior expressão eleitoral da altura (à frente do Garcia Pereira), não valeu.
Desta vou ter mesmo que votar em alguém, até para justificar a viagem.
Já agora, para que conste, em Setembro apostei que Soares não ganharia as eleições.

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terça-feira, janeiro 10, 2006


Última geração de telemóveis 


(Obrigado Marta!)

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quinta-feira, janeiro 05, 2006


Males não muito maus 

Ontem cheguei a Cambridge com uma constipação forte ou uma gripe fraca - nunca sei muito bem, não sou médico e estas coisas muito raramente me afectam, não me perturbam particularmente e costumam passar depressa...
Hoje, tomei o meu estado fungoso e as baixíssimas temperaturas exteriores como pretexto para não tirar o pijama e passar o dia em casa a trabalhar e a arrumar a agenda. Confesso que, depois da azáfama associada às duas últimas semanas em Portugal, me soube muito bem passar um dia tranquilo, letárgico, aconchegado e sozinho.
E, como parece que não faço falta no laboratório até Segunda e a Tese pode ser escrita em casa, amanhã talvez repita a experiência.

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quarta-feira, janeiro 04, 2006


Frio festivo 

Nas primeiras horas em Cambridge, sou logo informado pelo taxista e pelo septuagenário barbeiro que a semana anterior foi a mais fria dos últimos 40 e tal anos (mínimas de -10) e que a neve que entao caíu se aguentou por 3 dias. Com grande pena minha, o frio continua mas parece que já não vem neve...

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domingo, janeiro 01, 2006


Votos de um Feliz 2006 para todos os meus leitores! 

(simples e sinceramente)

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