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quarta-feira, março 03, 2004


Sotaques... 

Forçar um sotaque que não é o nosso costuma dar asneira... Percebo isso sempre que os meus amigos lisboetas tentam imitar o sotaque nortenho. Soa a ridículo... :-)
Com a língua inglesa passa-se o mesmo. Tenho uma nova colega australiana com um sotaque genuino. Orgulha-se disso e diverte-se a comparar sotaques. É um elemento popular no laboratório.
Há um mês, foi-se embora uma outra Australiana que não deixou muitas saudades. Não lhe bastasse o feitio difícil, era profundamente irritante ouvi-la porque se esforçava, sem sucesso, por falar com um sotaque britânico "posh" (ainda hoje isto é comentado no lab, em jeito de anedota)... Imaginem uma Angolana a tentar falar com o sotaque da Linha (embora em Cascais se use o "boé", puro africanismo)... :-) E eu acho o sotaque angolano delicioso!
Os sotaques adquirem-se gradualmente, com a envolvente... Sempre que passo uns dias em Viana, retomo um pouco de sotaque nortenho que naturalmente evanesce quando vou para Lisboa ou venho para Inglaterra... Segundo os meus colegas anglófonos, o meu Inglês arrancou cá com um sotaque caracteristicamente português, com um toque americano (provavelmente graças ao cinema e à televisão), que se vai aligeirando e tendendo para uma coisa neutral, por força da diversidade de sotaques que ouço diariamente. Mas é certo que nunca perderei completamente o sotaque original, a não ser que fique cá mais de 10 anos. Só as crianças adquirem sotaques novos com facilidade.
Por isso estranho a atitude de muita gente crescida que, quando aprende uma língua estrangeira, se preocupa mais com artifícios sonoros e descura gramática, vocabulário e a própria boa pronúncia das palavras (de quem, ás vezes, os sotaques são inimigos). O objectivo de impressionar é conseguido, mas pela negativa... Se soubessem que o sotaque de origem até é considerado "sexy" pelos nativos, teriam muito a ganhar...

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