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quarta-feira, abril 14, 2004


Uma graça... 

Ainda hoje agradeço à Diana Martins da Cruz a "bronca" da candidatura a Medicina, uma vez que forçou o Primeiro Ministro a uma mudança no elenco governativo que me parece ter beneficiado o País (esteticamente, para começar). Confesso que nutro alguma simpatia pela Ministra da Ciência e do Ensino Superior. Talvez por não me libertar completamente da vaidade e do corporativismo que ainda me ligam emocionalmente ao Técnico mas também pelo seu percurso académico, pela constatação de um conhecimento profundo e de uma mentalidade muito pragmática em questões de financiamentos, pela forma discreta (longe das câmaras) como tem actuado no novo posto... Penso que preenche os requesitos para ser Ministra e que trabalha com boas intenções, honestidade, dedicação e espírito de missão.
Assim, saudei com agrado as primeiras medidas, de que até poderei vir a beneficiar, embora a sua eficácia só possa ser comprovada daqui a uns anos. Mas o modelo anunciado hoje (obrigado Salomé!), indiscutivelmente objectivo e bem intencionado, desperta-me algumas dúvidas e já gerou reacções. Ao definir critérios tão exigentes (100 artigos ISI, 200 citações) para a atribuição dos ditos complementos, parece-me claro que o Governo quer atraír os cientistas (portugueses e não só) de mais elevada craveira para liderar a investigação que se faz em Portugal. A ideia até é em teoria boa e, contrariamente ao que algumas pessoas mal informadas andam a querer transmitir, não são assim tão poucos os investigadores portugueses que cumprem os critérios ou que, pelo menos, andam lá muito perto. O problema é que esses são os que já têm uma carreira sólida, trabalham nos melhores laboratórios e normalmente já têm mais de 50 anos (acumular 100 artigos leva o seu tempo). Dificilmente uma pessoa nestas condições quer ir para Portugal e montar um novo laboratório, mesmo com financiamento. Na minha opinião, há cientistas com 30s e 40 e poucos anos já com experiência e provas dadas (não 100 mas já alguns artigos com elevado factor de impacto) mas ainda com dinâmica suficiente para arriscar e começar algo de novo. A oportunidade tem que ser dada a quem não tem nada a perder.
O meu chefe em Cambridge tem 40 anos e um currículo impressionante. É de origem portuguesa (veio para cá em criança) e já teve convites e oportunidades para regressar a Portugal. Mesmo sendo novo, concluiu que era mais produtivo e útil ao País se ficasse em Cambridge e apoiasse pessoas como eu do que se abandonasse as condições excelentes de que cá disfruta e tivesse que começar um novo laboratório e enfrentar as dificuldades e incertezas inerentes.
Voltando à medida, devo dizer que espero pelo menos que os cientistas de craveira que já estão radicados em Portugal benificiem de "complementos" para a sua investigação, como é anunciado. E, em qualquer caso, dou o benefício da dúvida a algém que tem muito mais experiência e informação que eu. Já ouvi apelidar esta medida de "demagógica" e "cosmética" e devo dizer que me irrita esta mentalidade mesquinha e negativa de ver sempre uma intenção meramente mediática e eleitoralista em todas as acções de um Governo. Parece-me mais inteligente avaliar competências do que julgar intenções sem que se peça o seu esclarecimento.
É esperar para ver...

Há mais de dois anos, recebi um e-mail do Dr. Durão Barroso (na altura ainda candidato a PM) sobre a política científica que um seu eventual Governo seguiria. Fica prometido que, se encontrar a dita missiva nos meus arquivos, a reproduzirei aqui.

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