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terça-feira, maio 04, 2004


Feriado 

Esta Segunda-feira foi feriado no Reino Unido. Trata-se da folga correspondente ao 1 de Maio, uma vez que, neste país, tirando a Sexta-feira Santa e o Natal, todos os feriados são na Segunda seguinte à data simbólica. Assim, todos os anos há o mesmo número de feriados, todos os feriados correspondem a fins de semana prolongados e evitam-se as "pontes".
Para mim foi dia de trabalho (premiado ao jantar com bacalhau e Monte Velho). Na verdade, cada vez me sinto mais afortunado com a flexibilidade de calendários e horários associada à minha actividade profissional. É bom ser-se self employed. Tirei férias nos últimos dias úteis da última semana para a fruição total da companhia de uma visitante muito querida e especial. E, desta vez, a intempérie do fim de semana revelou-se providencial estímulo ao trabalho, uma vez que não apetecia mesmo fazer mais nada. De manhã sentir-me-ei "em dia": no trabalho e nos afectos.

Trabalhadores
Talvez porque sempre tenha levado uma vida algo burguesa, talvez por ter uma profissão pouco canónica, talvez pela minha nula vocação sindicalista, o 1 de Maio passou-me, mais uma vez, um pouco à margem. Para minha assumida vergonha, a compreensão racional e informada (?) dos problemas dos trabalhadores, em especial da classe operária, não me faz senti-los de perto. Sou assim um pouco coxo na minha acção como cidadão. Como diz o meu querido amigo Filipe, o Dia do Trabalhador não teve o impacto merecido na blogosfera. E, não sendo eu de esquerda, não podia estar mais de acordo quando ele diz que "[...] esta data tem de ser politizada e estes assuntos têm de ser politizados. À esquerda. É esta a vocação natural da esquerda.". Estranhamente, a esquerda decidiu fazê-lo mais enfáticamente no 25 de Abril, protestando e reinvidicando nas comemorações de uma data que deu aos Portugueses a liberdade para eleger democraticamente este Governo e para, no futuro mais ou menos distante mas sempre justo, democraticamente o depôr nas urnas. O plano foi subtil e idiota: aproveitar os infelizes e inadequados mas inofensivos slogans da Coligação ("Força Portugal", revolução sem "r") e as polémicas e austeras (mas de eficácia ainda por aferir) medidas do Governo para sugerir laivos de fascismo no Poder. Primário...
As únicas memórias mais fortes que tenho de outros 1 de Maio datam do tempo em que era Monitor no Técnico e trabalhava num gabinete no piso 9 da Torre Norte, com vista panorâmica sobre a mítica e emblemática Alameda Afonso Henriques (e sobre Lisboa - que saudades!). Em dois anos consecutivos vi-me obrigado a ir trabalhar nesse feriado e o silêncio do gabinete era quebrado pelos megafones da CGTP que projectavam a voz do Carvalho da Silva, pelos pouco entusiásticos gritos de ordem habituais ("trabalho sim, desemprego não", "os trabalhadores unidos jamais serão vencidos") e por pouco inspiradas palavras de ordem contra o Governo Guterres. De um ano para o outro, só notei uma diferença: no segundo ano estava menos gente. Tudo o resto foi igual, o discurso foi idêntico, fazendo juz ao epíteto de "cassete" que o Contra-Informação carinhosamente atribuiu a todos os militantes dessa área política. É claro que os problemas também eram os mesmos. Mas ainda hoje são os mesmos. E dificilmente se resolvem quando as formas de luta não evoluem e os cérebros da reinvidicação não mudam. Não há reciclagem de "cassetes". Há quanto tempo o Carvalhas e o Carvalho da Silva ocupam os seus cargos? Com que resultados? O que vai mudando ciclicamente são aqueles que se lhes juntam nas manifestações: os mesmos que anos (meio ciclo) antes eram alvo de ataques, hoje desferem ataques de conteúdo idêntico.
Coitados dos trabalhadores. Na prática são transformados em arma de arremesso político. Ninguém os defende. Nem os Governos nem quem tem a obrigação de lutar por eles... E ninguém lhes tirou o direito ao voto.

Alargamento e Constituição
O último 1 de Maio foi histórico pelo alargamento da União Europeia. Eu apoio a adesão de todos os novos Membros, exceptuando Chipre. Acho que Portugal beneficiou muito com a entrada para a (na altura) CEE e os outros países cultural e geograficamente tão europeus como o nosso merecem a mesma oportunidade. Se formos prejudicados é culpa nossa, não soubemos aproveitar o investimento feito para nos tornarmos competitivos. Nesse sentido, talvez o alargamento tenha o efeito balsâmico de pôr Portugal a trabalhar.
Quem parece ter mais medo do alargamento é o Reino Unido. O receio da imigração descontrolada já fez com que não integrasse o espaço Schengen e tem levado à implementação de medidas bastante restritivas. Mas o que para mim é absurdo é que se referende a Constituição Europeia no dia das eleições. Referendar questões básicas e morais como a despenalização do aborto ou a adesão propriamente dita é desejável. Mas como vai o cidadão comum perceber se a Constituição Europeia é boa ou má? Quantos eleitores lerão o documento (ou mesmo a sinopse) e, de entre os que lerem, quantos o perceberão? Afinal não se elegem representantes para tratar destes assuntos? Destinados a explicar-lhes as consequências da Constituição estão os partidos... E assim temos mais uma arma de arremesso político e o resultado do referendo vai medir o equilíbrio de forças entre os partidos e não um informado sentimento popular quanto à adequação do novo documento à realidade do Reino, como seria desejável...

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