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quarta-feira, fevereiro 02, 2005


Ar Condicionado e o Misantropo 

As duas últimas semanas de trabalho foram passadas num gabinete emprestado. Aquele em que normalmente trabalho sofreu obras inseridas no plano de reinstalação do ar condicionado de todo o edifício. Os defeitos de concepção de infraestruturas não acontecem só em Portugal. O Instituto tem menos de 4 anos e as condições de trabalho são, em geral, excelentes mas a climatização é um tanto bizarra e conclui-se necessitar de urgente remodelação. O meu gabinete é um "forno" tal que já fui visto a trabalhar de T-shirt em Janeiro. Pior do que o suor é a sonolência. Uma dezena de computadores ajudam a aquecer mas era de esperar que houvesse eficiente circulação de ar. A minha workstation está sempre a crashar devido a sobreaquecimento dos processadores. Através de uma janela de segurança vejo um laboratório em que todos sofrem com o frio e visitam com frequência o WC, devido à consequente contracção da bexiga. Cheguei a pensar em abrir um orifício na janela mas penso que a ventania gerada ia denunciar-me. Aliás, vento nas escadas é também frequente. Note-se que estas não têm qualquer ligação ao exterior, estou a falar de diferenças de pressão internas. A minha querida colega Maria tem um casaco de malha que normalmente permanece no laboratório e que também usa para ir à cafetaria cuja temperatura, no Inverno, é semelhante à do exterior.

Voltando ao gabinete emprestado, quando levei o meu material de trabalho para a secretária provisória, deparei-me com uma chaleira eléctrica. Estamos a autorizados a comer e beber nos gabinetes (nos laboratórios é, por razões óbvias, proibido) mas esse é um privilégio de que raramente usufruo. As refeições são um bom pretexto para fazer uma pausa e socializar. Por isso e pelo facto de haver máquinas de fornecimento gratuito de água quente para chá na cafetaria, estranhei a presença daquele aparelho e coloquei-o na mesa ao lado, também vaga. Todos os dias, ao início da tarde, um "cromo" vindo do laboratório entrava no gabinete e aquecia água. Quando começava a ferver, deitava-a num bule de loiça já com a saqueta de chá pronta para a infusão. Depois, sentava-se ao meu lado a tomar tranquilamente o seu chazinho e a comer uma sandes ou um bolo, enquanto lia um artigo... Na mesma sala, seis outras pessoas trabalhavam, agarradas aos seus computadores. No fim da refeição, arrumava tudo (deixando apenas a chaleira) e desaparecia sem ai nem ui.

Como nota final, no gabinete emprestado a workstation nunca crashou. O espaço também era muito quente (passavam tubos de água quente na parede junto à minha secretária, numa zona que já foi apenas sala de cacifos e cabides). No entanto, havia uma potente ventoinha disponível que, depois de um pouco de engenharia (que incluiu expôr as entranhas da máquina), garantiu que os processadores ficavam num túnel de vento e eu era refrescado por uma brisa vinda de debaixo da mesa (não sendo assim obrigado a despir-me para trabalhar).

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